sábado, 23 de fevereiro de 2013

OSCAR - Para fazer adulto chorar

Em 'Indomável Sonhadora', a atriz mais jovem a concorrer ao Oscar carrega o filme inteiro nas costas -e não decepciona
Quando a cena fecha um close up no rosto da jovem atriz Quvenzhané Wallis, com seus cabelos espetados, a sensação que dá é de que a câmera está trabalhando para ela, e não o contrário. A distorção quando o mesmo close é feito na menina de vestido azul e cabelos obrigatoriamente ‘domados’ no abrigo é de abrir um buraco no estômago. Wallis sabia perfeitamente o que estava fazendo.
Você nunca viu nada como “Indomável Sonhadora”, filme do diretor estreante Benh Zeitlin que concorre a quatro Oscars, incluindo Melhor Filme, Diretor e Melhor Atriz para Quvenzhané Wallis, a mais jovem indicada ao prêmio da história, com apenas nove anos.
Na história, Hushpuppy (Quvenzhané Wallis) é uma menina de apenas 6 anos que vive com o pai doente em uma comunidade miserável isolada às margens de um rio na Louisiana. Alcoólatra e explosivo, ele se recusa a procurar ajuda médica. Sempre preparados para a ‘Banheira’ – que é como chamam a comunidade — sumir sob a água, pai e filha acabam vivendo entre barracos e o barco improvisado na caçamba de uma caminhonete.
Ao som de folk, com ares de documentário e câmeras de mão, o longa surpreende logo na primeira cena, quando a voz da jovem narradora começa a expressar pensamentos. Diferente do que Hollywood costuma fazer com suas crianças prodígio, “Indomável Sonhadora” é um filme construído completamente pela perspectiva de Hushpuppy e por isso é tão encantador.
“Na Banheira tinha mais férias que no mundo inteiro”, diz a garota no prólogo, e a frase simboliza toda a forma de vida da comunidade. O povo, esquecido pelo governo e pelas pessoas da cidade (que construíram uma barragem separando os dois mundos), vive de forma primitiva, comendo o que a natureza oferece. Os dias na Banheira são sempre dias de festa, mesmo se alguém morrer, já que “na Banheira é proibido chorar”. Não há emprego com hora marcada, não há patrão, não há regras. Só sobreviver.
Com título original parecido com “Bestas do Sul Selvagem”, a tradução brasileira tentou focar o imaginário infantil cheio de sonhos da pequena Hushpuppy e errou de primeira. O filme não trata de sonhos, mas de uma vivência que chega a ser folclórica dos personagens, que creem na existência de criaturas mitológicas que vão ressurgir com o derretimento das geleiras, os aurogues.
A realidade dura da comunidade pelos olhos da garota não tem nada de sonhador ou sentimental. Hushpuppy precisa cuidar do pai, que o tempo todo lhe ensina o quanto a vida é cruel.
Wallis. Zeitlin encontrou em Quvenzhané Wallis o tom perfeito para seu filme. O diretor foi extremamente ousado ao apostar o peso de toda a produção nas costas da garota. No entanto, ela, como em uma cena do filme, abriu o peito, mostrou os músculos e disse: “Eu sou o homem aqui”. E como gente grande, o fez.
O longa fez lembrar o estilo de filme do diretor Terrence Malick (“A Árvore da Vida”) e também “Onde Vivem Os Monstros”, mas ainda assim é uma obra única. Digna, mesmo que com pouca possibilidade, de Melhor Filme, e forte candidata a Roteiro Adaptado e, sim, a Melhor Atriz, mesmo que seja improvável a Academia premiar uma criança, o que seria impreterivelmente merecido.
Ficha:
Indomável Sonhadora Diretor: Benh Zeitlin
Indicações: 3 Oscar
Avaliação: Excelente Chances de receber Melhor Atriz e Roteiro Adaptado
Assista ao trailer aqui.

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