sábado, 16 de fevereiro de 2013

OSCAR - As Aventuras de Pi: Ang Lee aprimorou a obra divina

Filme indicado a 11 estatuetas consegue, graças aos recursos digitais, fazer o espectador enxergar a divindade.
Não é de hoje que diretores e atores indianos têm conseguido fãs no mundo cinematográfico, mas nunca um livro sobre a cultura asiática sofreu tantas tentativas de adaptação para Hollywood como “A Vida de Pi”, de Yann Martel. E as empreitadas, antes infundadas, para transformar em filme a história, foram agraciadas por uma obra que dependia do tempo e da tecnologia -- hoje disponíveis no cinema -- para acontecer. O resultado foi “As Aventuras de Pi”, filme indicado a 11 Oscars.
O longa retrata a história de Pi Patel, o filho do dono de um zoológico localizado em Pondicherry, na Índia. Após anos cuidando do negócio, a família decide vender o empreendimento e se mudar para o Canadá. Para isso, vende todos os animais.Entretanto, o cargueiro onde viajam com algumas espécies acaba naufragando devido a uma terrível tempestade. Pi consegue sobreviver em um bote salva-vidas, mas precisa dividir o pouco espaço disponível com uma zebra, um orangotango, uma hiena e um tigre de bengalas.
Adaptar uma história que acontece dentro do mar envolvendo um jovem, um tigre de bengalas e um bote parece loucura, mas o diretor Ang Lee o fez -- e fez com maestria.
Se no livro de Martel a proposta é apresentar um relato que fará quem escuta acreditar em Deus, o diretor conseguiu no filme, graças aos recursos digitais, fazer o espectador enxergar a divindade.
Detalhes. A trama, narrada por um Pi Patel já adulto, não tem grandes mudanças de enredo. Logo no início do filme já se sabe que o garoto náufrago consegue se salvar, ou, de outra forma, como ele poderia contar o que passou? Mas é exatamente aí que o trabalho minucioso de Ang Lee entra.
Não é no início ou no fim, mas sim no meio da história, no que acontece do momento em que Pi entra no cargueiro até a hora que encontra terra firme, ou seja, os 227 dias que passou em alto mar na companhia de Richard Parker, o tigre. E o roteiro foi tão bem adaptado que até a descoberta surpreendente do espectador/leitor de que Richard Parker é um animal é mantida. Até este momento, tudo indica, pelo carinho e proximidade com que Pi trata Parker, que é um ser humano.
Os detalhes da trajetória delicada de Pi foram amplamente explorados pelo roteirista David Magee, que fez questão de mostrar lentamente as dificuldades e o definhamento do personagem em alto mar, revezando o momento com lembranças e histórias que funcionam como a muleta que faz a composição andar.
Ang Lee completa a obra com um retrato preciso do que foi descrito e adiciona o toque tecnológico que resultou em uma das fotografias mais belas da história da sétima arte, relembrando o que foi o burburinho gerado pelo revolucionário “Avatar”, de James Cameron, em 2010.
Positivo. Além dos efeitos, o filme, que deixa o final aberto para a conclusão ser tirada pelo espectador, faz o tom fictício da trama se tornar compreensível ao ser visto do ponto de vista psicológico de um garoto que precisa sobreviver, apesar das condições. Os jurados da Academia gostam desse tipo de filme.
Foi a linha entre real e imaginário a responsável pelas seis indicações ao Oscar que o longa “O labirinto do Fauno”, do mexicano Guillermo del Toro, recebeu em 2007 e, das seis, ele levou três.
Por isso, “As Aventuras de Pi” é candidato favorito ao prêmio de Melhor Fotografia, mas pode ainda levar Roteiro Adaptado e Efeitos Visuais. O título de Melhor Filme, se analisado o passado da Academia, não será entregue a ele, já que produções realistas são preferidas nessa categoria.
Ficha: As Aventuras de Pi
EUA, 2012
Diretor: Ang Lee
Indicações: 11 Oscars
Avaliação: Excelente
Favorito ao prêmio de Melhor Fotografia

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